terça-feira, 4 de outubro de 2016

Diário babélico


Um diário às avessas do Textualidades babélicas. Resultado do projeto "Cartografando rotas, experimentando existências", foi feito para ser compartilhado. Nele extravasam desejos, medos, dúvidas e alegrias. Pequenos detalhes ex-postos.


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Impasses, espaços, ex-paços, ex-passos Intervenção do Grupo de Pesquisa no Clube de Escrita

Habitar os espaços, alargá-los com passos, transcender os limites das (s)alas de a(u)las. Sentimentos, sentidos, contidos, expandidos. Exercitar o texto, textualizar o exercício, exercer o ofício na folha. No pacto, compacto, macio. Palavreadores e seus destinos. Desatinos.

Intervenção realizada pelo Grupo de Pesquisa Textualidades babélicas no Clube de Escrita em maio de 2016.





(Palavreadores do Clube de Escrita - IFSC/Campus Florianópolis)

Participação do Grupo de Pesquisa Textualidades babélicas no II Simpósio Internacional Formação de Educadores em Arte e Pedagogia

Em 09 de junho de 2016, o Grupo de Pesquisa Textualidades babélicas, representado pelo pesquisador Amauri Araújo Antunes, participou do II Simpósio Internacional Formação de Educadores em Arte e Pedagogia, em São Paulo.  O simpósio teve como tema pesquisar: arte: pedagogia: formação: mediação cultural e contou com a participação de inúmeros grupos de pesquisa de diferentes regiões do Brasil.


(Na fotografia, o pesquisador Amauri Araújo Antunes, apresentando trabalho realizado pelo Grupo)

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Estrelas perdidas (resenha)


Resenha dos romances O Voo da Guará Vermelha e Antes de nascer o mundo, inspirada na música "Lost Stars" (Adam Levine)... 

Por favor, não veja
Apenas um garoto preso em sonhos e fantasias


Não!, não veja


Apenas uma carcaça amaldiçoada de realidade. Sei que me vês perambulando de terra em terra, mas não fujo de nada, não sou escravo! nem ladrão, o que busco achar não hei de roubar de ninguém, sou homem de palavra e me engordo dessa vontade louca de escrever, de poder colorir com tudo quanto é cor o amarelo das velhas páginas… um dia vou achar quem me ensine a ler e a escrever, eu vou, vou sim


Então, não veja


Apenas um corpo comprado. Sei que o que vês é uma puta desgraçada, mas o que me desgraça é essa vida sem graça, sem cor, sem dança, sem nada, tenho que pagar a velha, mas tô sem um tostão, o que será do menino? hoje não teve clientela, os homens só querem as mais moças pra fazer amor, e dar amor eles não dão não, quem tem profissão de puta não tem amor, não tem carinho de graça, nem sonho pra quando se deitar… isso aprendi cedo, e agora tem a velha, ahh! a velha… e o menino! o que será do menino? hoje mal posso pagar, mal me deito na cama, mas e depois?… quando meu corpo não se levantar mais, o que será do menino?


E, por favor,... não veja
Apenas um velho louco de alma apodrecida. Sei que me vês como coração petrificado, homem despido de amor e coberto de ódio, raivas e possessões, mas saibas tu que o que me estrangula são maldições!, demônios!, e aquela puta! fantasma. E pare, pare, pare! de me fazer lembrar dessas coisas que eu nem lembro mais, eu esqueci, esqueci!, entendeste? vem, Mwanito, vem aqui me acalmar com seu silêncio

Só te peço… não veja

Apenas um garoto preso em sonhos e fantasias. Sei que me vês com os olhos nos céus e no horizonte, mas é que fico pensando no meu irmão e no que ele me diz sobre as lembranças de nossa mãe,... conheceste minha mãe? por favor, por favor, me conte! como ela é? é,... eu sei… não podes me falar, mas já estou cansado disto! e de um tanto mais de coisas: não posso cantar nem contar o tic tac do tempo, nem dançar, nem ver mulher e nem escrever… não posso escrever! como hei de aprender sem que o velho saiba? quem há de me ensinar? e onde? aqui não tem professor não, nem livro, papel branquinho nunca vi… é que eu queria sonhar histórias, sabe? mas o sonho de quem sempre viveu pregado a um só chão não sabe viajar

Então, por favor,... me veja
Tentando alcançar alguém que não consigo ver
Só pegue minha mão…
Vamos ver onde vamos acordar amanhã

Em histórias de Mil e Uma Noites talvez? Ou nas suas incontáveis histórias? Só vamos dormir com elas… e ver se amanhã vamos acordar dentro delas…! Pegue minha mão e vamos velejar! vamos atravessar nossos medos, vem, vem, minha guará vermelha, juntos vamos chegar ao Lado de Lá

E, Deus!, diga-nos o motivo!...
Só estamos procurando um significado…

Empoeirei-me os pés… e andei por entre marrons e cinzas de florestas e calçadas

Empoeirei os sonhos de menina… e desandei na vida cultivando feridas

Empoeirei tudo, todos, ela! até meu corpo virar pó; o pó, barro, para nele voltar e dele renascer espírito livre! livre? de futuro

Empoeirei minha infância e juventude… já nasci na vida adulta, entende?

Afinal, quem somos nós?
Apenas um amontoado de poeira no meio da galáxia?

Não!, não se atreva
Deixar que nossas melhores memórias te tragam tristeza

Conte-me sobre mamãe!... sobre Dordalma, porque eu sei, sei que ainda guardas memórias dela

Conte-me mais! até eu dormir, conte-me tudo o que já viste e faça-me sonhar

Ontem eu vi um leão beijar um veado
E Silvestre Vitalício beijar a jumenta Jezibela

Conte-me tudo! sobre Mil e Uma Noites e outras histórias! e mostre-me onde estão as palavras, quero vê-las e guardá-las pra sempre em minha memória

Vire a página
Talvez nós achamos um outro final
Onde nós estamos dançando em nossas lágrimas

Vire a página… olhe pra mim

Será que todos somos estrelas perdidas?
Tentando iluminar a escuridão?


Somos estrelas? perdidas? tentando iluminar qual escuridão?

 
Kaori de Novaes Kawano
Bolsista voluntária do Projeto "Textualidades babélicas"  
Estudante do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Química (IFSC/Campus Florianópolis)




Antes de nascer o mundo (Mia Couto)

Sinopse do romance Antes de nascer o mundo de Mia Couto...


Jesusalém, ermo encravado na savana, em Moçambique, abriga cinco almas apartadas das gentes e cidades do mundo. Ali, ensaiam um arremedo de vida: Silvestre e seus dois filhos, Mwanito e Ntunzi, mais o Tio Aproximado e o serviçal Zacaria. O passado para eles é pura negação recortada em torno da figura da mãe morta em circunstâncias misteriosas. E o futuro se afigura inexistente.
Silvestre afiança aos filhos e ao criado que o mundo acabou e que a mulher - qualquer mulher - é a desgraça dos homens. Mas um belo dia os donos do mundo voltarão para reivindicar a terra de Jesusalém. E não só isso: uma bela mulher também virá para agitar a inércia dos dias solitários daqueles homens.
Mia Couto é um dos maiores expoentes da literatura africana de expressão portuguesa. Moçambicano e amante confesso da escrita inventiva do brasileiro Guimarães Rosa, ele é um artista investido do poder mágico e poético das palavras. Mas é da alma do povo de seu país, bela, trágica, alegre, sofrida, enigmática, que este poeta da prosa extrai seu ouro universal.
Em Portugal, Moçambique e Angola o livro recebeu o título de Jesusalém.



O Voo da Guará Vermelha (resenha)


Este romance tem uma leitura muito agradável e dinâmica, sempre fazendo o leitor imaginar cada detalhe, seja das roupas dos personagens, seja os seus sentimentos mais profundos. O que mais me tocou nessa leitura foi a persistência para alcançar a felicidade. Mesmo Rosálio tendo uma vida difícil desde de sua infância na qual foi abandonado por sua mãe que se matou logo após seu nascimento, sempre teve um plano, que era aprender a ler a escrever para, um dia, talvez, poder viver de contar história. Um sonho de um menino que lutou e percorreu vários lugares atrás de uma professora que pudesse ensinar a escrita e a leitura, porém nesse caminho ele conheceu muita gente, com histórias muito diferentes e, mesmo sem saber ler e escrever, teve uma vida cheia de coisa para contar. Então, ele mais uma vez vai para cidade em busca de emprego e de estudo, porém conhece Irene, uma prostituta com aids que não tem nada na vida a não ser seu filho e uma velha que cuida dele. Essa mulher que estava com a doença muito avançada, sem solução, segundo os médicos, dá toda sua força para poder continuar trabalhando exclusivamente para sustentar seu filho e velha, porém, com a aproximação de Rosálio, tudo muda, ela não quer mais dinheiro desse homem, só quer, depois de todo um dia de serviço, deitar e ouvir as mais variadas histórias que ele conta.

Assim começa uma grande amizade, um amor que vai além do físico. Irene, sempre muito fraca, junta todas as suas forças para ensinar a Rosálio como se lê e se escreve; ele se dedica a aprender dando em troca à mulher suas histórias que, muitas vezes, são extremamente tristes, mas servem para ela esquecer o máximo que pode dessa vida. As histórias são variadas o que torna o livro ainda mais interessante. Rosálio começa falando de sua infância, na qual era um menino sozinho no mundo, sem nome, sem família, apenas com uma senhora que cuidava dele e um homem que lhe deu o seu maior tesouro, um baú de livros. Independente de onde e como ele estivesse, o baú estaria sempre perto. Quando ele conhece Irene, tem a grande oportunidade de saber as histórias que continham naquele baú. Esse amor entre os dois só cresce depois de muitas idas ao bordel para falar de sua vida, nem sempre só para Irene. Rosálio tinha o dom de acalmar as pessoas ao falar, por isso também conta histórias para uma colega de serviço de Irene, Anginha, que comete o maior erro, aproximar-se de um cliente afetivamente.

Temos vários personagens nesse livro, todos muitos diferentes um dos outros, cada um com uma história que se mescla com a história de vida do Rosálio. 

O desfecho do romance não é tão surpreendente, pois sabemos que Irene tem uma doença terminal e que, como Rosálio sabe ler e escrever, pode viver do que sempre sonhou, contar suas histórias na praça para ganhar dinheiro com o que realmente ama, deixando de ser apenas um homem forte que serve somente para trabalhar com serviço braçal. Deste modo, termina a história, Rosálio tem Irene cuidando dele no céu azul e pode viver do que sempre amou.

Para mim, a maior relação desse livro com as nossas reuniões é o fato de as histórias de vida serem contadas para todo mundo ouvir e fazer disso um momento único e importante para quem conta e ouve. Isso vai muito além de só ouvir também, temos a troca de experiências, em que Rosálio transforma suas vivências em histórias que conta para Irene e esta que sempre teve uma vida muito fechada o ensina a ler e a escrever. Então, com isso, sabemos que, mesmo alguém que tenha tão pouco, pode dar muito, só depende de como você vê essa pessoa e de como você retribui isso.

Mayra Herzog

Bolsista do Projeto "Textualidades Babélicas"
Estudante do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Saneamento (IFSC/Campus Florianópolis)
  

O Voo da Guará Vermelha (Maria Valéria Rezende)

Sinopse do romance O Voo da Guará Vermelha de Maria Valéria Rezende...


O livro trata da relação de Irene e Rosálio. Ela, uma mulher que chega do Norte e, em São Paulo, se torna uma prostituta com Aids. Ele, um servente de pedreiro que vive na cidade grande. 

Os personagens desta obra sobrevivem na obscuridade humana, discretos e anônimos na sua miséria, mas intensos nos seus sonhos de um dia viver, porque não?, como os outros vivem, com alegria e alguma esperança. Irene tem muito a ensinar para Rosálio, e ele também a dizer para Irene - até que a linda guará vermelha consiga alçar voo. 
Com um ritmo fascinante, este livro nos captura com sua musicalidade, sua engenhosa arquitetura, sua linguagem retrabalhada à exaustão - e por isso mesmo passível de ser devorada com simplicidade e poesia.