segunda-feira, 25 de julho de 2016

A Biblioteca de Babel e o Memorioso Funes (resenha)

Resenha do conto "A Biblioteca de Babel" e "Funes, o memorioso" (Jorge Luis Borges)...

O conto “A Biblioteca de Babel”, de Jorge Luis Borges, descreve uma biblioteca composta por salas hexagonais na qual é possível encontrar todos os livros possíveis. “Repito­: basta que um livro seja possível para que exista. Somente está excluído o impossível. Por exemplo: nenhum livro é ao mesmo tempo uma escada, ainda que, sem dúvida, haja livros que discutem e negue e demonstrem essa possibilidade e outros cuja estrutura corresponde à de uma escada.” Na sua escrita, é utilizado um alfabeto composto por 25 caracteres.


A biblioteca existe desde a origem do tempo (se é que há mesmo uma origem) e continuará existindo independente dos humanos. Em termos de espaço, não se sabe se a biblioteca é infinita ou ilimitada. Como consta no começo do conto, ela é o próprio universo.



A nosso ver, o fato de os humanos, chamados no texto de bibliotecários imperfeitos, serem a única espécie existente na biblioteca se dá pelo fato de a leitura dos livros representar o contato indireto da razão com o mundo. Seria ilógica, portanto, a presença de um cachorro no local, visto que tal animal não enfrenta os dilemas da mente humana.



Consequentemente, a existência de um livro contendo todos os segredos do universo poderia ser considerada uma possibilidade válida. Muitos dos habitantes da biblioteca vagam por ela à procura deste. No entanto, não há como constatar a legitimidade das informações trazidas por quaisquer escrituras que aparentem ser o objeto de procura porque, para tal, seria necessário dominar o tão buscado conhecimento.



É possível associar ''A biblioteca de babel'' com o conto ''Funes, o memorioso'', escrito pelo mesmo autor. Neste, o jovem Irineu Funes sofre um acidente que, apesar de deixá-­lo paralítico, é privilegiado com uma memória impecável.



Funes adquire a capacidade de recordar dias inteiros de sua vida e memorizar li­vros integralmente. Afirma que a perda de seus movimentos fora apenas o preço a se pa­gar pela prodigiosa habilidade e que, até o momento do acidente, ''[...] fora o que são todos os cristãos: um cego, um surdo um abobado, um desmemoriado.[...]''. Todavia, o jo­vem é pouco inteligente, do que memoriza.



Irineu apenas explora sua mente para catalogar aquilo que já havia vivido, resumin­do tudo em cerca de 70.000 lembranças. Também havia criado um sistema de numeração em que cada número recebia um nome formado por palavras existentes em seu idioma, o que se mostrava inútil. E assim eram os habitantes da biblioteca de Babel: possuíam um acervo infinito, mas não podiam desfrutar daquilo com suas mentes limitadas.



É questionável a possibilidade de utilizar a palavras para comunicar a ''verdade universal'' de maneira compreensível. Isso se deve a um fator principal: a escrita, mutuamente, molda e é moldada pela mente humana. Poderia ser traduzido em palavras outro tipo de mente? O acesso ao universo como é de fato pode não ser possível para as pessoas. Na natureza, é possível observar animais que possuem órgãos sensoriais que captam um mundo bem diferente do que estamos acostumados a perceber.



Em ''A Biblioteca de Babel'', o poder de persuasão de um livro sobre um habitante ficaria a critério das experiências vividas pelo mesmo. O resultado disso seria a formação de diferentes grupos de cultuamento a obras distintas, semelhantes a religiões. Em uma passagem do texto, são mencionados até mesmo ''[...] distritos em que os jovens se ajoelham diante dos livros e beijam selvagemente as páginas, mas não sabem decifrar uma só letra.''



''A biblioteca de Babel'' é um conto que retrata a ''jornada'' da mente humana pelo universo, situada pelos sentidos e reorganizada pelas palavras. Todo o potencial de comunicação escrita de conhecimento se localiza nas prateleiras do local. Eis o questionamento gerado após a leitura: que tipo de conhecimento poderia ser adquirido quando todo o potencial da escrita já houvesse sido utilizado? Estariam os segredos do universo localizados nesse patamar?

  
Larissa Victória Backes da Cunha
Bolsista voluntária do Projeto "Textualidades babélicas"
Estudante do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Química (IFSC/Campus Florianópolis)

Laura Emerim
Bolsista do Projeto "Textualidades babélicas"
Estudante do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Química (IFSC/Campus Florianópolis)

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